quarta-feira, 29 de setembro de 2010

COOL

Todo dia é a mesma coisa, uma multidão se aglomera para disputar migalhas de pão, com os cabelos suados e as mãos no bolso, correndo para o nada, fazendo pompa e pose de retaliação. Com a mente insana, você espreita o bárbaro aceitável da humanidade, com músicas tolas, se expõe ao alto das torres de tiro, com os olhos vendados, sua voz estridente nunca repousa e seus ouvidos fechados fazem de você um produto empilhado nas revendas de álcool. A sombra da galinha você se aconchega, e é assim que roubam o seu cérebro, a refeição do palhaço você se torna. Há um segundo, você se achava importante, agora percebe que ninguém mais o nota, a vida inteira criticou a sua imagem e semelhança, e agora a sua alma vazia o consome. Você não tem passado, não sabe de onde veio e não enxerga além da cortina que esconde a janela. Agora você se acha cool, você acredita ser cool, você faz tudo que o cool manda, você é o estereótipo, você se tornou a cobaia livre, viva a sua liberdade!

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Minhas pernas estão plantadas, minhas mãos já cansadas não conseguem mais as mesmas notas afinadas, o sol quente do deserto tortura a minha mente e preciso procurar por águas calmas, onde eu possa renascer de todo condicionamento mental que me impede de enxergar o vasto oceano.

sábado, 29 de maio de 2010

O Tempo

Caminho pela úmida manhã por entre a névoa fina que ofusca os meus olhos e o som do vazio. O vento, as folhas no chão e eu só, em meio a essa estrada deserta, sem um lar pra voltar ou um caminho pra seguir. Somente uma antiga canção ecoa em minha mente e me faz lembrar de outros tempos, das saudações de dias festivos, dos seus cabelos soltos na primavera e do nosso céu de sonhos que formavam um soneto de reveladora verdade.

Tento me esquivar das ruínas do tempo andando por ruas nunca antes visitadas, mas meus pés estão cansados. Continuo a caminhar e aprendo que a dor é uma companhia aguda que você aprende a carregar. Não paro de pensar nas ventanias das enseadas e das embarcações que partem com vigoroso renascer. Quando chegar, sei que sentirei o cheiro das especiarias que vêm com o vento de margens distantes e saberei que estarás dançando com um largo sorriso e suas botas de tiras, junto a outras moças ansiosas pelas primeiras experiências da mocidade.

Não vou desistir até envolvê-la em meus braços ainda jovem em alguma das tantas dimensões que disputam o físico e presente espaço perdido no tempo inexistente e invisível. Sei que estará lá, do jeito que te conheci, mas ainda não sei como chegar, estou acordado, meus olhos pesados perdidos no vazio, minhas lembranças acesas como a luz de algumas estrelas que já não existem mais e continuam a brilhar com infinita beleza.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Bilhete Encontrado no Bolso da Farda de um Soldado Desconhecido Morto na Segunda Grande Guerra no Primeiro Ataque à Monte Castelo

" Escuta Deus,
Jamais falei contigo.
Hoje quero saudar-te-: Bom dia! Como vais?
Sabes? Disseram que tu não existe e eu, tolo, acreditei que era verdade.
Nunca havia reparado tua obra.
Ontem à noite da trincheira rasgada por granadas, vi teu céu estrelado e compreendi então que me enganaram.
Não sei se apertarás minha mão .Vou te explicar e hás de compreender.
É engraçado: neste inferno hediondo achei a luz para enxergar teu rosto.
Dito isto já não tenho muita coisa a te contar.
Só que... que... tenho muito prazer em conhecer-te.
Fazemos um ataque à meia noite.
Não tenho medo.
Deus, sei que tu velas...
Ah! É o clarim! Bom Deus, devo ir-me embora.
Gostei de ti, vou ter saudade.
Quero dizer, será cruenta a luta, bem o sabes, e esta noite pode ser que eu vá bate a tua porta!
Muito amigos não fomos é verdade.
Mas sim... estou chorando! Vê Deus, penso que já não sou tão mau.
Bom Deus, tenho que ir. Sorte é coisa bem rara.
Juro porém que já não receio a morte... "

quinta-feira, 27 de maio de 2010

O Telhado

Quando não se tem nada pra dizer, quando não se tem nada pra entender... Quando tudo parece perdido, quando nada faz mais sentido, quando eu nem sei mais porque escrever, porque não tenho nada pra contar e não sei como terminar esse texto... Mas como comecei e eu nem sei pra que, vou tentar escrever mais algumas palavras que me vem a cabeça, mas não aquelas palavras que estão no dicionário e que são de certo modo dispensáveis para a nossa comunicação, portanto, não procure achar algo nesse texto porque você não vai encontrar... Esse sou eu e nem sempre as coisas que eu faço têm algum sentido.
Bom, sabe aquele dia em que as portas se fecham e você perde o rumo, é muito louco isso porque o que eu achava ontem e estava convicto não faz o menor sentido hoje, dá vontade de fugir pra bem longe, mas me sinto preso. Me olho no espelho e vejo uma fera enjaulada e esquecida no tempo, envelhecendo e observando o ciclo da vida.
Chego ao ponto de me desesperar, mas o que importa e quem se importa com os meus grandes planos, o que realmente importa são as contas pra pagar e a goteira do telhado. Acordo suando no meio da noite depois de ter um pesadelo em que eu estava velho, na fila preferencial do banco e preocupado com a goteira no telhado... Nossa, meu Deus preciso consertar a logo o telhado antes que chegue a velhice!
Bom, agora que eu acordei, não consigo mais dormir porque me lembrei que sou um ser humano e tenho que me preocupar com uma porção de coisas que não fazem o menor sentido. Acho que vou dar uma volta com o cachorro pra ver se o sono vem, mas nem cachorro eu tenho... Ainda bem, porque se tivesse, além de me preocupar com contas e goteiras, teria que me preocupar também com as fezes do meu animal. Mas eu tenho um peixe e percebo que não faz o menor sentido ter um peixe em casa, afinal, como poderia levá-lo para passear comigo esta noite.
Amanhã eu não tenho nada de importante para fazer, porque eu não consigo chegar ao ponto de ter alguma coisa útil para me ocupar e o pior de tudo é quando os dias começam a ser iguais, você já plantou todas as sementes que tinha, mas tem que esperar a colheita para poder começar uma nova plantação e o pior é que a colheita não vem... Os dias passam, as semanas voam, os meses ficam pra trás e logo chegará o fim do ano.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

QUIMERA

Tudo que eu ouvi das mais distantes adagas que feriam povos e seqüestravam sonhos, dos mais loucos devaneios, da mais intrínseca quimera perpetuada nas civilizações, não é nada que eu tenha provado ou sequer presenciado nesse mundo de ilusões. As têmporas das antigas estações, os vastos oceanos de feras intangíveis e as promessas de absolvição, assim como as histórias que li nos livros, fazem me crer que nada mais nos resta que o lapso da vida, a fração do segundo, a insignificância da passagem e a melancolia do tempo. A sobriedade do dia a dia me leva ao tédio, bloqueia a minha mente como a mais feroz das drogas, me faz esquecer vôos mais altos. Sinto frio, avisto uma enseada numa distante tarde de verão, mas agora enxergo apenas mais um dia cinza e a anestesia das noites inúteis em que fiquei tratando de coisas imprecisas e de caminhos que não eram os meus. Isso realmente mexe com o meu centro, mexe com a minha verdade variavelmente precisa em relação aos dias em que almejei o impreciso, mas com verdadeiro sentimento. Eu sinto fome, eu preciso de comida. Eu quero sair e me sentir a vontade, ando virado com a paciência. O tempo é tão grande e eu tão pequeno, isso realmente foge do meu controle. Não dá pra ficar assim esperando, é melhor o movimento, mas não se tem escolha, a vida dá as cartas e ficamos a mercê das coisas. Talvez eu possa recuperar o controle, talvez isso tudo seja um sonho, talvez eu acorde índio e não tenha mais tantos pesadelos, talvez eu encontre o caminho para Ítaca, talvez eu encontre a clareza do pensamento.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Comentando o texto "Tratando-se do Tempo" do meu amigo Marcelo Cajuí.

Vivemos o tempo do anti-valor, o tempo vazio para ser esquecido, abstrato. Ao mesmo tempo quue essa geração protesta a falta de tempo, é a geração que mais gasta o tempo inutilmente. Passa-se um dia à frente de um computador, jogando ou atualizando o seu perfil nos diversos sites de relacionamento. Gasta-se o tempo assistindo à um programa de televisão que nada tem a acrescentar. Gasta-se o tempo correndo atrás de uma ilusão, de algo inexistente. Gasta-se o tempo cuidando da vida dos outros e esquecendo a própria existência.
Tudo o que precisamos é de um pouco de vivência, é de usar o tempo de forma útil. O tempo existe para ser experimentado, para ser transformado em algo de valor para a humanidade. Use o seu tempo de forma sábia. Ações, pensamentos e sensibilidade. Viva o advento do novo. Viva as novas experiências!